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Abstracts da Conferência

 

Cartaz da Conferência final Novembro 2023

 


 

Programa da Conferência final 23 Novembro 2023
Programa da Conferência final 24 Novembro 2023

 


Inscrição obrigatória

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CHAMADA DE TRABALHOS

Olhar a Humanidade de forma inteira é um convite a pensar as suas desigualdades ao detalhe, nas vulnerabilidades e assimetrias. É um olhar para todos os diferentes contextos humanos – social, político, económico, educacional, ecológico e psicológico, no seio das comunidades e grupos sociais, de forma integrada e construtiva. A aplicação do conceito de Desenvolvimento Humano Integral deseja integrar esta perspetiva na forma como se pensa hoje a Humanidade para o futuro: nas suas periferias e centralidades, em torno de um bem que seja de e para todos, justo, digno, universal e comum. 

Este é também um convite a pensar a promoção de capacidades, competência e resiliência, nas formas de mitigar, ultrapassar e prevenir as diversas ameaças, como a crescente polarização social. Simultaneamente, deveremos ponderar a atuação perante as próprias vulnerabilidades ou, ainda, a forma mais apropriada de comunicar vulnerabilidades e capacidades com públicos diversos, sem alimentar preconceitos e combatendo o discurso de ódio entre grupos sociais e indivíduos distintos. 

A conferência “Vulnerabilidades (e o bem comum)”, promovida pela Universidade Católica Portuguesa, une especialistas provenientes da academia e de setores-chave da sociedade, para pensar o futuro humano e o bem comum. Ao longo de dois dias, exploramos o tema desde a potencialização do valor social aos meios de comunicação e vulnerabilidades, desde a resiliência entre gerações às migrações no feminino e às vulnerabilidades na educação. Um encontro aberto a todos. 

 


PROPOSTAS DE TRABALHOS

As propostas devem ser enviadas para dhi.cados@ucp.pt até 15 de outubro de 2023 e incluir um título de comunicação, um resumo alargado (700 palavras), nome, endereço eletrónico, filiação institucional e uma breve biografia (máx. 100 palavras) mencionando a investigação em curso. Os candidatos serão informados do resultado das suas candidaturas no final de outubro.

 



APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS COMPLETOS

Os apresentadores terão de enviar os trabalhos completos (máx. 20 páginas, espaço 1,5) até 20 de novembro de 2023.

 


 
ABSTRACTS DA CONFERÊNCIA

 

Agata Wiorko, A arte como forma de comunicar e sensibilizar para a saúde mental - baseado num projeto de estudo de caso: MADNICITY

Alexandra Araújo, Impacto de um programa piloto de promoção do Desenvolvimento Humano Integral em idades tardias através da formação em Lazer

Alexandra Pereira, Migrações no Feminino

António Oliveira, Educação e Abandono Escolar

Carlos Barros, Resiliência Intergeracional

Cristina Sá Carvalho, «Ciência para o Bem Comum» A Educação face à Vulnerabilidade e o Desenvolvimento Integral

Elizângela Carvalho Noronha, Envelhecimento mediatizado: entre a invisibilidade e o ideal positivo neoliberal

Ester Minga, Os Discursos Públicos sobre Migrações

Helga Martins, Avaliação espiritual e uma intervenção terapêutica espiritual em pessoas com doença mental: Um projeto de implementação fundamentada na evidência

Isabel Santos, Serviço Social e desenvolvimento integral da pessoa humana: desafios ao ensino e à prática profissional na sociedade portuguesa contemporânea

Joana Romeiro, A imigração: passado informativo político-governamental e em Saúde na Web

Linda Koncz, (Re-) Searching Needs and Hope through Visual Storytelling

Sara Fernandes, Pobreza e vulnerabilidade infantil, Um estudo neuroético

Tiago Abalroado, Potenciar o Valor Social

 


 

Agata Wiorko, A arte como forma de comunicar e sensibilizar para a saúde mental - baseado num projeto de estudo de caso: MADNICITY

Para a conferência, gostaria de falar sobre a minha investigação atual que é desenvolvida no âmbito do IHD. O projecto tem como objectivo a sensibilização em colaboração sobre cidadãos neuro-divergentes, cuja vulnerabilidade mental é intuitivamente considerada não só como uma maldição ou um desafio, mas também como um dom e uma graça.  

A parte crucial do projeto envolve um processo curatorial dinâmico que incorpora valores de Desenvolvimento Humano Integral. Propõe uma cooperação transdisciplinar contínua entre agentes ativos em várias geografias, culturas e áreas de especialização. Esta rede de conversação é complementada por uma dimensão virtual: disseminação de conhecimento sob a forma de podcast. A partilha terapêutica da consciência holística relativamente à inter-relação entre corpo, mente e espírito é paralela à experiência da criação artística como meio de comunicação transformadora. 

Seguindo a própria intuição, uma abordagem holística é posta em prática e implica cuidar das relações: connosco próprios, com o ambiente, com Deus, levando à recolha de ferramentas farmacológicas (Stiegler) para que a IHD prospere. Não só o indivíduo, mas também uma vida comum, deve então aparecer, precisamente através do contacto intercultural, intergeracional e inter-religioso, ancorado em histórias pessoais concretas e inspirando a diversidade de estudos de caso.  

A obra de arte, uma série de momentos da curadoria específica (Rogoff) aqui prevista, é neste quadro uma etapa e um dispositivo para que tais questões se tornem não só visíveis mas partilháveis, com as questões cognitivas e de tradução a entrarem nos mecanismos de detecção do Todo. O que se procura assim é uma paisagem de mentes que nas atuais condições civilizacionais quase não estão presentes no que deveria ser uma mentalidade mais rica. 

É aqui que a noção de Acção - como um aspecto da ética cristã - se torna crucial. Como agir dentro, para além, para que a mente sinta que vale a pena viver; onde presa e meditação, caminhada e dança, artes e ofícios (tradições vivas para o desenvolvimento pessoal) devem ser incluídos nos processos dos participantes, como contributos decisivos para um sentido dinamicamente equilibrado e generativo do 'vivo' (vs. vida) (de Castro). Tais formas de desenvolvimento devem assim ser partilhadas e debatidas, para além da sobrecarga enganosa de informação que está indiscutivelmente a destruir a possibilidade do Espaço Público Espiritual (Caeiro) - um espaço onde o seu verdadeiro desenvolvimento é uma contribuição para uma comunidade global mais resiliente do ponto de vista mental.  

Além disso, a visão do projecto envolve-se numa dimensão de crítica, uma prática actualmente em crise, num mundo cheio de opiniões que permite a formação de opiniões destrutivas sem critérios vividos e conscientes. Neste sentido, o projecto aborda duas questões específicas que se sobrepõem: a repressão da dignidade, para além da qual surgirá um novo discurso; e a exclusão do sistema daqueles que não se adequam ao objetivo e à produtividade económica, situação para a qual o capitalismo ético é actualmente uma resposta válida.  

O meu projecto para o IHD, tem como objectivo a sensibilização em colaboração sobre cidadãos neurodivergentes, cuja vulnerabilidade mental é intuitivamente considerada não só como uma maldição ou um desafio, mas também como um dom e uma graça. Propõe uma cooperação transdisciplinar contínua entre agentes ativos em várias geografias, culturas e áreas de especialização. Esta rede de conversação é complementada por uma dimensão virtual: disseminação de conhecimento sob a forma de podcast. A partilha terapêutica da consciência holística relativamente à inter-relação entre corpo, mente e espírito é paralela à experiência da criação artística como meio de comunicação transformadora. 

 


Alexandra Araújo, Impacto de um programa piloto de promoção do Desenvolvimento Humano Integral em idades tardias através da formação em Lazer

O Desenvolvimento Humano Integral (HDI) propõe olhar para a pessoa como um fim em si mesmo, considerando todas as dimensões da vida: económica, social, cultural, política e espiritual, ou seja, "a pessoa toda" (Papa Paulo VI, 1967, p.14).  

Para promover o DHI nas idades tardias partimos do princípio de que o envelhecimento não é um problema, mas tem problemas associados a si a que urge responder (Spyker, 2017). E, no lazer encontrámos a “ferramenta” para promover o DHI.  O lazer é sério quando tem objetivos, é a realização sistemática de uma atividade, encarada como um hobby, realizada com espírito amador ou como voluntário. É uma atividade significativa e interessante para o praticante, em que os indivíduos evoluem e progridem articulando os seus recursos e competências, os seus conhecimentos e a experiência, e, daqui retiram uma realização relevante (Stebbins, 1992). 

Apresenta-se o ponto da situação de um projeto de Pós-doutoramento em DHI a decorrer na Universidade Católica Portuguesa, CADOS. O projeto consiste na adaptação, implementação e avaliação de impacto de um programa piloto de formação em Lazer Sério para os diferentes profissionais da área do envelhecimento humano, para assim promover o DHI nas idades tardias. O programa piloto foi realizado junto dos diferentes grupos aderentes, em Fátima, Lisboa e 8 instituições no Distrito de Évora. Num total de 10 instituições e 80 participantes. A avaliação inicial com recurso a questionário elaborado para o efeito, a avaliação final por questionário e a avaliação final por focus group foram realizadas. Neste momento procede-se à análise dos dados e transcrições dos focus group. Considera-se que no momento da Conferência seja já possível apresentar uma parte substancial dos dados. É possível nesta fase constatar que o impacto percebido do programa foi positivo a nível pessoal, interpessoal e ao nível da prática profissional dos profissionais envolvidos. 

Trata-se de uma formação presencial de 30 horas com o título O Lazer para promover a DHI nas Idades Tardias. Este programa de formação destina-se aos diferentes profissionais da área do envelhecimento (independentemente da sua posição na instituição ou do seu grau académico). O lazer sério (Stebbins, 1992) e o conceito de DHI são explicados de forma teórica e prática. É também explicada a relação entre os conceitos e são abordadas diferentes temáticas associadas aos conceitos em estudo (e.g. trabalho em equipa, comunicação, práticas narrativas, bem comum, cuidado integral, espiritualidade, mattering, empatia, relações interpessoais positivas, liderança, entre outras). As sessões são teórico-práticas com dinâmicas desenvolvidas especificamente para o efeito. 

Por forma a tornar os conteúdos da formação próximos e tangíveis aos participantes, foram desenvolvidos os seguintes recursos, a apresentar na Conferência: Bola do Lazer; Flor; Cartas das Forças de Caráter; O Meu Próprio Manual e Cubo da Gratidão. Em processo está o livro/manual de apoio ao programa. Para disseminar e tornar possível a continuidade da forma de trabalhar apresentada na formação, e com financiamento da UCP foi criado um kit do programa que integra os seguintes recursos: Bola do Lazer; Cartas das Forças de Caráter e O Meu Próprio Manual, acondicionados num saco personalizado. 

Sobre publicações científicas, submetido artigo para a 3rd INSURE Conference, UCP – Porto e está a ser trabalhada uma scoping review sobre Lazer Sério e envelhecimento.  

Nas publicações não científicas, destaca-se o convite para uma colaboração de dois artigos para a revista on line Claustro e um artigo para a newsletter da Associação 55+  

A inter e multidisciplinariedade para a execução deste projeto são cruciais. Neste sentido, destaca-se a mentoria; professores UCP; Biblioteca; Programa DHI; colaboração com colegas DHI; com a Fundação Unitate por forma a certificar a formação a decorrer; com uma ilustradora para as ilustrações do livro/manual a realizar; com a Ordem dos Carmelitas Descalços para co-organização das II e III Jornadas de Longevidade e Espiritualidade; possibilidade da realização do I Simpósio de DHI na Diocese de Évora, e, CME que convocou as instituições da rede social para a formação, e, a possibilidade da realização de um evento similar na SCM de Sintra.  

Considera-se que o trabalho já desenvolvido permite perceber a pertinência da formação em Lazer para promover o DHI na prática. 

 


Alexandra Pereira, Migrações no Feminino

A chamada “feminização da migração” tornou-se uma realidade inescapável e a diáspora nepalesa não é exceção. Parti de questões teóricas sobre capability theory approach (Nussbaum, 2000; Sen 1987-2016), migrações e discriminação de género (Timmerman, Fonseca, Van Praag e Pereira, 2018; Ruyssen e Salomone, 2018), juntamente com uma análise da migração feminina internacional nepalesa (Banco Mundial, 2022; Borelli, 2022; Shrestha, 2022). O meu objetivo foi responder à seguinte pergunta de investigação: como definir uma inclusão social migrante bem-sucedida e avaliá-la recorrendo a critérios específicos (e.g. capacidades e competências, experiências de discriminação e desigualdades, participação cívica, redes de solidariedade), para as duas gerações de entrevistadas nepalesas? Esta é uma investigação qualitativa, combinando a observação participante, o diário de campo e o método etnográfico com dados coletados a partir de 30 questionários de caraterização sociodemográfica e 30 entrevistas semiestruturadas (1h30m) com 20 mulheres migrantes nepalesas da 1ª geração em Portugal e 10 mulheres migrantes nepalesas da 2ª geração em Portugal, todas maiores de 18 anos. Os resultados foram analisados com recurso a NVIVO 12, segundo oito dimensões: percurso migratório, relações familiares, relações sociais, relações comunitárias, relações laborais/educativas, relações sexuais, dimensão existencial e identidade pessoal, e autodeterminação jurídica. Descrevo, em detalhe, a novidade dos resultados obtidos em relação às redes de solidariedade, experiências de discriminação, desigualdades de género, cidadania e participação política e capacidades das mulheres migrantes – comparando resultados para ambas as gerações. Concluo discutindo as implicações futuras das minhas contribuições. 

 


António Oliveira, Educação e Abandono Escolar

Apresenta-se o parte do trabalho desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-Doutoramento em Desenvolvimento Humano Integral da Católica Doctoral School (CADOS), UCP.  

Partiu-se do estudo prévio (Oliveira, 2019) que comprovou a existência de um fenómeno, distinto do abandono escolar precoce (efetivo) e do desengajamento escolar, emergente nas escolas portuguesas: o “abandono [escolar] oculto”. A construção de um Perfil de Aluno em Abandono Oculto (PAAO) e a conceção/ implementação de um Dispositivo de Identificação do Abandono Oculto (DIAO) permitiram identificar, caracterizar os alunos em abandono oculto e definir em que nível de gravidade se encontravam (Oliveira, 2019). 

Perante os resultados obtidos, tornou-se pertinente alargar o conhecimento sobre este fenómeno, constatando a sua existência e real dimensão noutras escolas e divulgando por diferentes canais as conclusões do estudo prévio. 

Selecionaram-se três Agrupamentos de Escolas e implementou-se o DIAO, procedendo-se à deteção e identificação dos alunos em risco de abandono oculto. Fez-se a recolha e tratamento dos dados dos alunos relativos ao ano letivo 2021/22, conforme as dimensões do PAAO. Face a constrangimentos inesperados, redefiniu-se o plano de trabalho, alterando-se o desenho inicial e o produto final. Assim, adicionalmente, recolheram-se dados relativos a 2022/23, procedeu-se à sua análise e categorização por níveis de gravidade, fazendo a comparação entre os dados relativos aos anos letivos 2021/22 e 2022/23. Partilhou-se essa análise com as equipas multidisciplinares de cada escola para que se possam construir respostas educativas que evitem estes percursos de “exclusão silenciosa”, previnam o desengajamento escolar e fomentem o reengajamento dos alunos dos alunos em abandono escolar oculto. 

Em suma, procura-se desocultar este problema e criar condições para resguardar estes alunos de trajetórias de exclusão progressiva e silenciosa e de abandono oculto, que mantêm as desigualdades e dificultam o acesso de todos e cada um ao seu desenvolvimento humano integral. 

 


Carlos Barros, Resiliência Intergeracional

 

Neste projeto estudou-se a importância da solidariedade intergeracional e a utilização do espaço presencial–digital na adaptação e coesão de dinâmicas relacionais em famílias transnacionais portuguesas. Procurou-se continuar a analisar dados de estudos doutorais sobre a emigração de jovens adultos/as portugueses/as, integrando a perspetiva das figuras parentais que ficaram em Portugal a envelhecer com gap geracional. Com ênfase em duas gerações que enfrentam desafios diferentes, mas que vivem o projeto migratório em conjunto, foi possível entender a vulnerabilidade de forma integral e desenvolver respostas académicas e sociais. 

Levou-se a cabo um estudo exploratório qualitativo com figuras parentais (N=20), promoveu-se a reanálise dos dados quantitativos (N=300) e qualitativos (N=22) previamente feitos a jovens emigrantes. Ainda, foram recolhidos dados junto de N=10 experts nas áreas de trabalho. 

Tal levou ao desenvolvimento de inúmeros materiais académicos (artigos científicos, capítulos de livros, congressos de especialidade, docência de aulas/palestras para sensibilizar sobre o tema), bem como transferência social (participação escrita e multimédia na comunicação social nacional e internacional; apresentação em eventos sociais). Ainda, comunicação da ciência e impacto da mesma na sociedade em redes europeias (gestão na COST - European Cooperation in Science and Technology). O resultado de todas as atividades contribuiu para o desenvolvimento de um manual de boas práticas sobre famílias transnacionais, editado pela UCP Editora e que conta com mais de N=100 participantes num inquérito aberto à sociedade portuguesa. 

Simultaneamente, o projeto tentou desenvolver competências transversais que encontrou na análise de dados, desenvolvendo uma exposição interativa sobre Direitos Humanos e Desenvolvimento Humano Integral (exposição Equidade) que esteve em exibição em espaços académicos e civis em Portugal e no Brasil. 

 


Cristina Sá Carvalho, «Ciência para o Bem Comum» A Educação face à Vulnerabilidade e o Desenvolvimento Integral

 

A Educação lida sempre com a vulnerabilidade: como nos diz Modigliani, é sempre uma troca de dons, a própria vida, dos que (já) são algo e que (já) têm algo para os que ainda não são (alguma coisa) ou que não possuem um bem desejável e que, maior parte dos casos, o prometem: é o exercício da partilha do conhecimento, da experiência, das competências desenvolvidas, do interesse, da motivação, de uma certa ideia de mundo, dos instrumentos de resolução dos problemas que uma sociedade, mais ou menos globalizada, partilha. E que hoje ocorre num mundo de informação massivamente disponível mas, ainda assim, nem sempre fiável, organizada, promotora de desenvolvimento. A escola para todos mostrou-nos que a educação é também um trabalho em torno do risco, da fragilidade que nasce de um conjunto de circunstâncias sociais, económicas, ambientais, o que, numa criança, adolescente ou jovem, está também associado à idade, à etapa do ciclo de vida: o progresso no ciclo de vida faz-se por crises e não está isento de riscos; a educação educa seres em devir, que ainda não são plenamente autónomos, nem estão na posse de todo o seu potencial, e por isso requerem acompanhamento, orientação, a partilha de uma cultura, a promoção de instrumentos de adaptação à realidade, de análise e de crítica, da transformação que é o cerne da adaptação humana ao seu complexo habitat. As crianças e os jovens são, por isso, sempre vulneráveis pois, pelas condições de complexificação das sociedades, estão desprovidos ou possuem num grau não reconhecido, valorizado ou viável as capacidades e as possibilidades de escolha que estas oferecem e se não forem incentivados a desenvolver-se plenamente, a compreender o meio que os rodeia e a exercitar as suas preferências num ambiente estruturado, a otimização das suas futuras circunstâncias ficará comprometida, assim como a possibilidade real das suas conquistas individuais e comunitárias. O desenvolvimento humano integral promove em cada pessoa o alargamento das suas possibilidades e, portanto das suas escolhas: trata-se do processo de construção da identidade – quem sou eu?, que farei com a minha vida? – já que lhe oferece um cardápio mais amplo de possibilidades de acesso à realidade, de instrumentos de navegação na complexidade cultural, social e natural dos habitats e da escala global das suas múltiplas interações. Não ser «bem educado», não partilhar os instrumentos da cultura na sua leitura, nos processos de adaptação que esta exige e na sua transformação em algo melhor significa ser-se excluído, discriminado, ignorado na defesa dos seus direitos humanos, sociais, económicos, políticos e ambientais, isto é, não ter uma voz nem a oportunidade de participar na vida dos outros, na sua própria vida, para a qual se é remetido no papel de observador passivo. Sem educação, uma pessoa está indefesa, insegura e exposta a múltiplos riscos, choques e níveis elevados de stress e desadaptação (Cf. R. Chambers). Stiglitz chama a atenção para o facto de serem numerosas as causas e consequências da vulnerabilidade e afirma a redução da vulnerabilidade como um elemento essencial de qualquer agenda em prol da melhoria do desenvolvimento humano. Todavia, avisa, o êxito na redução das vulnerabilidades implica saber abordá-las numa perspetiva sistémica abrangente. Neste sentido, uma Educação que promova o Desenvolvimento Humano Integral das pessoas e das organizações educativas, tem um papel fundamental na promoção do desenvolvimento das sociedades e aprofunda o processo de construção identitária ao colocar no centro a questão essencial: «para quem sou eu?». Neste quadro de referência, propomo-nos discutir um modelo de Inovação Curricular a partir da Ecologia Integral. Trata-se de responder às necessidades educativas com que as Universidades se confrontam hoje, através de um design educativo baseado na antropologia social que a Ecologia Compreensiva proposta pelo Papa Francisco aponta e promove. Desenvolve-se a partir dos princípios unificadores do Bem Comum, da ética Social e do estilo de «Obra Educativa» que o Papa propõe, facultando aos alunos processos de aprendizagem promotores de Comunidade: cultura, relações humanas, simbólica, cooperação e ajuda, dignidade humana e ética.

 


Elizângela Carvalho Noronha, Envelhecimento mediatizado: entre a invisibilidade e o ideal positivo neoliberal

Os Censos demográficos realizados em Portugal têm consistentemente reafirmado o envelhecimento da população. A sua última edição, realizada em 2021, aponta que as crianças nascidas naquele ano tinham – em média – uma esperança de vida de 78 anos para o sexo masculino e 84 anos para o sexo feminino (PORDATA, 2022). Este aumento progressivo da expectativa de vida tem sido discutido de maneira ambivalente na esfera pública nacional. Se por um lado é celebrado por indicar uma melhoria nas condições de vida da população e o avanço dos tratamentos médicos, por outro, traz preocupações quanto à sustentabilidade econômica de uma população em que 23% das pessoas são idosas (têm 65 anos ou mais) e apenas 13% são jovens (têm idades entre 0 e 14 anos) (PORDATA, 2022). Estas preocupações demográficas/econômicas têm influenciado de maneira particular o debate público e político sobre o processo de envelhecimento na Europa e em Portugal, sendo este o segundo país do continente com maior proporção de pessoas idosas (EUROSTAT, 2023). Estes dados vêm soando como “alertas” aos governos e às pessoas que compõem a faixa etária considerada economicamente ativa (dos 15 aos 64 anos). Amplificadas pelos media, as previsões têm, por outro lado, contribuído para a consolidação de uma apreciação estereotipada e negativa do envelhecimento, tornando esta fase da vida sinônimo de inatividade, dependência e custo social sobre os mais jovens e os serviços de assistência e saúde. Cabe referir que as percepções negativas sobre o processo de envelhecimento têm forte impacto sobre as autopercepções das pessoas mais velhas, como vem sendo documentado pela investigação sobre velhice e sobre o preconceito da idade (ver, por exemplo, Levy et al, 2002). De acordo com algumas investigações realizadas neste sentido, os estereótipos e, por consequência, os autoestereótipos de idade têm influenciado de maneira maioritariamente negativa a saúde física e mental dos/as idosos/as, moldando como as pessoas vivenciam a velhice, podendo se refletir até mesmo na sua longevidade. Soma-se a isso o fato de que o envelhecimento – apesar de ser um processo decorrente do prolongamento da vida – vem sendo obscurecido por preconceitos e mitos. Como refere Beauvoir (2018, p. 1), “para a sociedade, a velhice aparece como uma espécie de segredo vergonhoso do qual é indecente falar”. Ainda que a invisibilidade social do envelhecimento tenha começado a ser desnaturalizada com o desenvolvimento da geriatria e da gerontologia, sobretudo, a partir do século XX, como refere a antropóloga Guita Grin Debert (1994), estas ciências têm partido de apreciações biológicas universalizantes para compreender e regular o processo de envelhecimento. Além de negligenciarem os aspectos socioeconômicos e culturais que moldam a diversidade das vivências na velhice, estas ciências têm sido influenciadas pela agenda econômica da União Europeia e da OCDE que vêm fomentando a noção de “envelhecimento ativo” (Cabral, 2013; Rodrigues, 2018) como alternativa aos déficits previdenciários através do prolongamento da atividade profissional após os 65 anos. A partir deste complexo conjunto de fatores e tendo em conta o progressivo avanço das lógicas neoliberais sobre as diferentes dimensões da vida social (Meyers, 2019; Fuchs, 2021), das vivências das mulheres (ver, por exemplo, Gill, 2007; McRobbie, 2007; Banet-Weiser, 2018) e, sobretudo, das mulheres envelhecidas (Edström, 2018; Shimoni, 2023), propomos nesta comunicação uma investigação exploratória sobre como o processo do envelhecimento tem sido construído discursivamente (Fairclough, 2003) no jornal regional Notícias da Covilhã no segundo semestre de 2023. A escolha do periódico se justifica pelo fato da e cidade da Covilhã estar situada na região Centro/Interior onde, segundo o Censo de 2021, está concentrada a maior proporção de pessoas idosas do país e entre os 16 municípios mais populosos da região, a Covilhã é a cidade que possui o maior decréscimo populacional: 10,3%. Apenas a população idosa tem crescido no concelho, tendo em 2021 um total de 29,8% da sua população com 65 anos ou mais, uma proporção maior que a média nacional (CENSO, 2021). Como o envelhecimento tem sido tratado pela comunicação local? Que representações são geradas pelo discurso jornalístico? Existe, a nível local, algum debate sobre o tema e, se sim, que contornos discursivos tem esse debate? Que identidades de gênero e de idade são propostas pelas notícias? Que focos temáticos (economia, política, saúde) são estabelecidos? É possível traçar padrões de idadismo de gênero nas notícias? Para responder a estas questões, construímos uma amostra intencional de notícias que nos permite olhar em profundidade para a construção discursiva do tema do envelhecimento, para o que recorrermos à análise crítica do discurso e aos contributos da teoria feminista interseccional sobre este tema.

 


Ester Minga, Os Discursos Públicos sobre Migrações

O objetivo deste projeto de investigação é identificar e criticamente analisar como representações sociais sobre o fenómeno migratório são articuladas nas suas distintas vertentes, influenciando assim atitudes e perceções sobre pessoas migrantes. A especificidade portuguesa, como país provedor de emigrantes e local de acolhimento para vários grupos migratórios (Peixoto et al., 2016), será considerada de forma estrutural, com a investigação debruçando-se sobre cinco tendências contemporâneas: diminuição da imigração, e aumento vertiginoso da emigração, entre 2010 e 2015; migrações forçadas (com enfoque na ‘crise dos refugiados’ em 2015 e na reemergência do tópico em 2021); migrações de cidadãos europeus (à luz do referendo do Brexit em 2016); e efeitos da Covid-19. Primeiramente, a cobertura de jornais nacionais entre 2015 e 2021 será analisada por meio de uma abordagem quantitativa à análise de enquadramento, porém algumas peças também serão selecionadas para uma abordagem qualitativa. Posteriormente, serão desenvolvidos grupos focais com segmentos da população e entrevistas semiestruturadas com jornalistas. A hipótese é de que o enquadramento público do fenómeno migratório assume distintos padrões ao representar as diferentes vertentes da emigração portuguesa e da imigração em Portugal. 

 


Helga Martins, Avaliação espiritual e uma intervenção terapêutica espiritual em pessoas com doença mental: Um projeto de implementação fundamentada na evidência

A situação epidemiológica em Portugal é apresentada no relatório do Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental referente a 2017, revelando que 4% da população sofre de uma perturbação psiquiátrica grave, 11,6% apresenta uma perturbação de gravidade moderada e 7,3% enfrenta uma perturbação de gravidade ligeira. As doenças mentais mais comuns incluem a ansiedade (com uma prevalência de 16,5%), seguidas pelo grupo das alterações do humor (7,9%), as fobias específicas (8,6%) e a perturbação depressiva major (6,8%). 

No entanto, indivíduos com doenças mentais continuam a enfrentar preconceito, estigmatização, estereótipos negativos e descriminação. Essa estigmatização e discriminação podem gerar obstáculos significativos para que as pessoas com doença mental obtenham o apoio de que precisam, resultando em impactos adversos como o isolamento social, a exclusão do mercado de trabalho e a falta de acesso a tratamento adequado. Portanto, é contraproducente que a doença mental continue a ser relegada para a periferia da nossa compreensão humana, com os indivíduos afetados sendo marginalizados em uma sociedade que afirma ser moderna e contemporânea no século XXI. 

As pessoas com doença mental atravessam por momentos difíceis e delicados ao longo do seu processo de doença. Porém, a dimensão espiritual desponta durante este período como uma estratégia de coping eficaz. Entretanto esta dimensão que faz parte da integralidade do ser humano é considerada na literatura a mais negligenciada pelos profissionais de saúde.   

Objetivo: Avaliar a conformidade da prática baseada em evidência sobre a avaliação da espiritualidade e uma intervenção terapêutica espiritual em pessoas com doença mental. 

Metodologia: Este projeto de implementação de evidências usou a metodologia de Joanna Briggs Institute Practical Application of Clinical Evidence System e Getting Research into Practice. Esta metodologia en globa sete etapas: Etapa1 - Identificar a área de prática, Etapa 2- Envolver agentes de mudança, Etapa 3- Avaliar o contexto e a prontidão para mudar, Etapa 4 - Rever a prática em relação aos critérios de auditoria baseados em evidências, Etapa 5- Implementar mudanças na prática usando GRiP (Getting Research into Pratice), Etapa 6 -Reavaliar a prática usando uma auditoria de acompanhamento e a Etapa 7 - Considerar a sustentabilidade do projeto.  

O projeto vai ser implementado nas Irmãs Hospitaleiras Lisboa, Clínica Psiquiátrica de S. José. Atualmente, está a ser analisado pela Comissão de Ética e aguarda a autorização institucional para iniciar, após reuniões preparatórias de sensibilização. 

Resultados esperados e implicações: Melhorar as taxas de conformidade relacionadas com à prática baseada em evidências para avaliação da espiritualidade em pessoas com doença mental. Melhorar o conhecimento sobre as boas práticas de intervenção terapêutica espiritual em uma equipa multidisciplinar de saúde. 

Este projeto poderá inaugurar uma perspetiva holística que considera a espiritualidade como uma dimensão integral do desenvolvimento humano, com aplicação efetiva nos cuidados de saúde e pode melhorar a qualidade do cuidado ao utente com doença mental, promovendo uma abordagem centrada na pessoa e respeitando a diversidade espiritual. 

 


Isabel Santos, Serviço Social e desenvolvimento integral da pessoa humana: desafios ao ensino e à prática profissional na sociedade portuguesa contemporânea

O serviço social é uma profissão de intervenção e uma disciplina académica que promove o desenvolvimento e a mudança social, a coesão social, o empowerment e a promoção da pessoa. Tem como centrais os princípios da justiça social, dos direitos humanos, da responsabilidade coletiva e do respeito pela diversidade. Alicerçado na própria base teórica, em teorias de outras ciências sociais e humanas, e em conhecimentos locais específicos, o serviço social relaciona as pessoas com as estruturas sociais para responder aos desafios e à melhoria do bem-estar social (cf. IFSW & IASSW, 2014). A Declaração Global de Princípios Éticos para o Serviço Social vem, por sua vez, reforçar o compromisso dos assistentes sociais com os valores e princípios fundamentais da sua profissão, entre os quais, o tratamento da pessoa humana como um ser integral (cf. IFSW & IASSW, 2018). Os traços distintivos do serviço social parecem, pois, sugerir que o Desenvolvimento Humano Integral (DHI) – enquanto conceito cunhado em 1967 pelo Papa Paulo VI, na Carta Encíclica Populorum Progressio, para indicar uma visão de desenvolvimento centrada no ser humano, capaz de “promover todos os homens e o homem todo” (14), e cujo enfoque o Papa Francisco renovou em 2015, com a publicação da Carta Encíclica Laudato si´ –, encontra reflexo nesta profissão social. Esta correlação adquire particular significado ao olhar-se os destinatários da intervenção dos assistentes sociais: pessoas, grupos e comunidades em situações de pobreza e exclusão social, relegados às “periferias da humanidade”. Neste sentido, o serviço social pode trazer um contributo para a leitura de temas críticos da sociedade, e para o aconselhamento às políticas sociais que enquadram o agir dos assistentes sociais em contexto organizacional. Diante das profundas transformações que ocorrem no mundo contemporâneo e, por inerência, no tecido social, o serviço social vê atualmente o seu campo profissional em recomposição (cf. Amaro, 2015; McGregor, 2019), configurando, esta, uma oportunidade para repensar o ensino e a prática dos assistentes sociais. A isto se propõe este projeto de pósdoutoramento, iniciado na Católica Doctoral School (CADOS) em fevereiro de 2022: por um lado, produzir conhecimento sobre a realidade e; por outro, formular propostas que possam conduzir a uma maior sensibilização dos vários intervenientes nos processos de intervenção social, e à capacitação dos assistentes sociais, para uma prática profissional mais alinhada com o desenvolvimento integral da pessoa humana, em contextos de pobreza e exclusão social. Ao funcionar deste modo, pretende-se alcançar de forma indireta um conjunto alargado de beneficiários: os destinatários da intervenção dos assistentes sociais. Em termos concretos, constituiu-se como observatório a Região Autónoma da Madeira (RAM), onde serão realizadas diferentes incursões, envolvendo assistentes sociais, responsáveis institucionais e destinatários das respostas sociais, com recurso a uma metodologia de investigação-ação. Importa realçar que, antes de iniciar este projeto, o mapeamento dos assistentes sociais na RAM era inexistente. Esta ação, considerada prioritária, foi concretizada 2/2 em parceria com a APSS-Madeira (inquérito online), e permitiu conhecer o universo destes profissionais na RAM (182), a sua distribuição geográfica e área de intervenção. Os resultados do mapeamento foram divulgados num evento comemorativo do Dia Mundial do Serviço Social, a 21/03/2023, no Funchal, que contou com a participação de 172 profissionais na área do cuidado social (154 assistentes sociais; 18 com outras formações). No sentido de capacitar os assistentes sociais, ao nível de conhecimentos e competências, para uma prática profissional mais alinhada com o DHI, foi implementada uma oferta formativa com 130h letivas – Pós-Graduação “Perspetivas Atuais, Acompanhamento e Inserção em Serviço Social” – na Universidade da Madeira (UMa), em parceria com a Universidade Católica Portuguesa. Com início em setembro de 2023, esta pós-graduação conta com 12 alunos, e beneficiará dos conhecimentos adquiridos no Programa Pós-Doc., no âmbito do DHI, sobretudo em duas unidades curriculares: “Serviço Social: debates e perspetivas atuais”; e “Seminário de investigação e práticas profissionais em Serviço Social”. No âmbito desta pósgraduação, será brevemente lançado um Ciclo de Conferências, destinado a profissionais com funções de acompanhamento e inserção social – Segurança Social; Saúde; Educação; Justiça; Emprego; IPSS/ONG; Autarquias –, e a estudantes da área das ciências sociais e humanas. Em curso, também se encontra uma pesquisa teórico-conceptual sobre a relação existente entre os princípios do desenvolvimento humano integral, e os objetivos da profissão do serviço social. Este exercício alimentará, em 2024, um inquérito por questionário (online) a ser lançado aos assistentes sociais da RAM, e cujos resultados serão devolvidos aos profissionais numa sessão pública. Em fase posterior, será selecionada uma área setorial do serviço social na RAM para a condução de um focus group com vários atores sociais – responsáveis institucionais; assistentes sociais e outros profissionais –, e que versará, entre outros, sobre as políticas sociais públicas existentes naquele setor, e os desafios que se colocam aos profissionais de “terreno” em matéria de intervenção social. Na mesma área setorial, mas em momento distinto, far-se-á uma sessão de auscultação com as pessoas destinatárias da intervenção social, para que se possam pronunciar sobre as políticas e medidas sociais que lhes são destinadas, e os processos de acompanhamento social em que estão envolvidas. Um relatório síntese será veiculado às respetivas instâncias de decisão política, em matéria de inclusão social e cidadania. Por último, de referir que, na qualidade de assistente social e investigadora em DHI, e a convite da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN Portugal), em março de 2023 passou-se a integrar o grupo de trabalho “Pobreza e Exclusão Social”, com enquadramento num estudo pioneiro de caraterização da pobreza na RAM (2023-2024). 

 


Joana Romeiro, A imigração: passado informativo político-governamental e em Saúde na Web

O trabalho desenvolvido teve como recurso essencial o Arquivo.pt, infraestrutura de pesquisa de páginas da Web, neste caso páginas portuguesas, e no acesso que concede à informação arquivada desde 1991. O carácter atual, global e de intervenção prioritária que é a imigração, nomeadamente aspetos relativos aos acessos a cuidados de saúde, enfatizaram a necessidade de investimento na compreensão da dispersão e atenção dedicada ao seu formato digitalmente disponibilizado na Web, naquela que tem sido a informação político-governamental prestada à sociedade portuguesa favorecedora, ou não, do combate ao estigma, reconhecimento e bem-estar num princípio favorecedor da igualdade entre os Homens e de uma sociedade integradora. Deste modo o presente trabalho teve como objetivos: Caracterizar a informação digital disponibilizada na Web, pelos órgãos político-governamentais portugueses (República Portuguesa, Alto Comissariado para as Migrações (ACM), Ministério da Saúde e Direção-Geral da Saúde (DGS)), e pela Ordem dos Enfermeiros (OE), sob o tema da imigração na sua vertente afeta à Saúde; E comparar o percurso temporal da informação disponibilizada na Web, pelos órgãos político-governamentais portugueses e OE, nas medidas adotadas face à imigração e aspetos particulares à Saúde. Foi adotada uma metodologia que privilegia a exploração dos conteúdos digitais nestas páginas Web portuguesas, através da pesquisa dos termos: “imigrante” e/ou “imigração” e/ou “refugiados” e/ou “saúde” e/ou “multiculturalidade”. A pesquisa não conheceu limites temporais. A informação considerada pertinente foi alvo de uma análise mista, quantitativa e qualitativa, tratamento estatístico e por categorias tal como preconizado pela análise de conteúdo. Após seleção e eliminação da informação duplicada e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão obtiveram-se 269 publicações online referentes ao contexto da imigração. Os dados obtidos foram sintetizados permitindo constatar que as primeiras referências à imigração, nos sítios políticogovernamentais portugueses, datam o ano de 2000. Conheceu-se uma atenção constante ao longo dos anos com um crescendo progressivo no ano de 2016, e um pico relevante no corrente ano de 2023. Este maior interesse online foi constatado em paralelo com a necessidade de adoção de medidas informativas quanto ao acolhimento de imigrantes/refugiados provenientes da Ucrânia, salvaguardando-se especial atenção às necessidades de asilo, proteção e saúde desta população. Como seria de prever e tendo em conta o âmbito de atuação o ACM foi a entidade que revelou maior quantidade de conteúdos (n=107), seguida da DireçãoGeral da Saúde (n=74). A DGS foi a pioneira e predominante na divulgação de informação entre os anos 2003-2015, com o SNS assumindo a liderança entre 2016 e 2020. Foi inédita a atenção do sítio da República Portuguesa no ano de 2022 comparativamente aos restantes sítios político-governamentais. Este facto pode ser explicado pela necessidade de adoção de medidas direcionadas a populações mais vulneráveis à doença, como sejam os imigrantes, na prevenção da COVID-19 e consequentemente a premência por orientações quanto à acessibilidade aos cuidados pelos imigrantes. Em relação ao contexto em que surgiram referências ao tema pesquisado, a divulgação informativa em geral apresentou maior expressão (n=165; 61%), seguida da abordagem a medidas legislativas/políticas (n=36; 13%) e encontros/eventos de cariz científico (n=32; 12%). A saúde (n=133; 52%) e a integração (n=62; 25%) foram os temas que predominaram na conversa sobre esta temática. Uma análise debruçada sobre a categoria major mais pertinente (“Saúde”) fez salientar a DGS na publicação de conteúdos sobre saúde em geral (n=65), vulnerabilidade à doença (n=28) e acessibilidade aos cuidados de saúde (n=20). O Ministério da Saúde apresentou maior preocupação na melhoria da qualidade dos cuidados de saúde (n=9) e saúde mental (n=5). O estudo de tendências passadas na informação em Saúde constitui um contributo fundamental ao delineamento de estratégias mais adequadas de transmissão e divulgação de conteúdos pelos órgãos políticos ao público, sociedade em geral e aos profissionais de saúde em particular. As lacunas em Saúde identificadas no passado permitem extrapolar para a realidade atual, a necessidade de investimento na clareza e completude da informação científica divulgada.

 


Linda Koncz, (Re-) Searching Needs and Hope through Visual Storytelling

Millions are currently re-starting their lives as responses to environmental issues, economic difficulties, political conflicts, or because of study or work opportunities. (Re-)Searching Needs and Hope through Visual Storytelling is an online audiovisual archive that aims to contain around 40 interviews with migrants of Lisbon. The project aims to reach a wide range of migrants, from economic migrants to digital nomads. The interviewees are migrants of different political, economic, social or cultural backgrounds. The same set of questions are asked of people of different nationalities with different migrant statuses to identify the similarities and differences within their integration process. The audiovisual format can pave the path for critical thinking and cultivate inclusive and diverse narratives, providing access to audiences that traditional academic outputs might not be able to reach. Visual storytelling can humanise statements, data and quantitative analyses. The questions are designed to encourage the participants to elaborate on their lives' sociocultural and spiritual aspects. The answers provide a starting point for understanding the experiences and perspectives of migrants and clarify what has helped or hindered their integration into Portugal. This approach can help establish a solid framework for social entities to understand the needs of different migrants and provide the necessary support. This conference paper focuses on the 12 female participants of the ongoing interview project. They are from Russia, Armenia, Italy, the U.S., Singapore, Slovenia, Uzbekistan, Chile, Colombia, China, Pakistan, and Poland. They answered the same 17 questions about the social, political, economic, cultural and spiritual aspects of their integration into Lisbon. The conference presentation will be a comparative analysis of their integration experiences. The interviewees are from different nationalities and backgrounds; therefore, the common elements in their answers can shed light on the current migration landscape of Lisbon.

 


Sara Fernandes, Pobreza e vulnerabilidade infantil, Um estudo neuroético

O século XXI marca o nascimento institucional da Neuroética nos EUA, área de investigação multidisciplinar que reflecte sobre as questõesantropológicas, éticas, sociais e legaissuscitadas pelo notável progresso neurocientífico-tecnológico das últimas décadas. Sem descurar a importância dos avanços neurocientíficos dos anos 90 (década do cérebro), a emergência da neuroética tem importantes raízes históricas nas sociedades europeias e norteamericanas. Provém de uma longa herança reflexiva sobre a ética das ciências do cérebro, a qual sempre se praticou nestes continentes,no séc.XX, nomeadamente em Portugal, país com invulgar tradição na neurologia no contexto mundial. Na presente comunicação, proponho-me apresentar o projeto que me encontro a desenvolver e que é exclusivo desta área interdisciplinar, e deixa-se formular na questão seguinte: como poderão as neurociências auxiliar-nos a compreender os múltiplos efeitos da pobreza no desenvolvimento infantil? Esta pergunta conduz a outra: qual a contribuição das neurociências no desenho e implementação de políticas que visem eliminar a pobreza e elevar o nível de desenvolvimento das crianças? As questões orientadoras do projeto partem do seguinte pressuposto filosófico acerca do conhecimento neurocientífico: o desenvolvimento humano deriva de relações complexas entre o corpo, a mente e o ambiente. As neurociências já provaram esta reciprocidade entre o desenvolvimento pessoal e a integração nomundo, como a identidade se constrói a partir da história, intersubjectividade, com o vínculo fora de si e nele adquire profundidade temporal e existencial. A investigação neurocientífica já provou, por conseguinte, o carácter vulnerável, frágil, sensível do ser humano em relação o outro, e como o seu desenvolvimento saudável está igualmente dependente de circunstâncias ou contingências, muitas vezes, fora do seu controlo. Ora, se os conhecimentos actuais sobre o funcionamento do cérebro humano já evidenciam a disposição biológica do ser humano à experiência integral de si próprio como um todo e como uma unidade integral aberta ao mundo, afigura-se legítimo, levantar duas hipóteses gerais que pretendemos desenvolver no projeto: 1)as circunstâncias socioeconómicas de cada um são decisivas na potenciação ou inibição do desenvolvimento pessoal; 2) o meio socioeconómico tem impacto em espiral nas diversas dimensões pessoais (física, intelectual, emocional, moral e social). Metodologia: Pretendemos desenvolver um estudo comparativo em crianças de escolas do primeiro ciclo do distrito de lisboa, frequentadoras dos terceiro e quarto anos de escolaridade. As crianças serão divididas em dois grupos de acordo com o seu contexto socioeconómico (rendimento médio-alto e rendimento baixo), mas dentro do contexto socioeconómico baixo, as crianças serão ainda subdivididas em crianças, cujas escolas que frequentam se situem dentro do seu bairro social e crianças desfavorecidas que frequentem escolas do 1º ciclo fora do seu bairro social. Serão usados dois critérios para identificar as escolas mais desfavorecidas do 1º ciclo e respetivas crianças que as frequentam: beneficiárias do escalão A (apoio social escolar) e famílias que recebam o rendimento social de reinserção. Partiremos, assim, de três grupos de crianças do distrito de lisboa: 1) crianças com contexto socioeconómico médio-alto; 2) crianças com contexto socioeconómico baixo e frequentadoras de escolas inseridas no seu bairro social; 3) crianças com contexto socioeconómico baixo frequentadoras de escolas fora do seu bairro social. Para se formar a amostra representativa seleccionar-se-ão três a quatro escolas básicas do primeiro ciclo do concelho de lisboa, expressivas da zona habitacional, ou seja, do contexto socioeconómico das famílias. No projecto, prevê-se que a recolha de dados implique a aplicação de testes cognitivos (no domínio do português e da matemática), morais e avaliação do estado emocional das crianças (nível de stress/ansiedade). Com o presente estudo procuraremos perceber se há uma relação neuroética entre as capacidades das crianças e o seu nível socioeconómico. Procuraremos avaliar a hipótese de M.Farah, segundo a qual, a pessoa é não só determinada biologicamente, como as próprias circunstâncias socioeconómicas condicionam o seu desenvolvimento, potenciando ou inibindo (até limitando) as múltiplas capacidades (em relação) das crianças. Finalmente, consoante os resultados da análise dos dados, elaboraremos recomendações/artigos neuroéticos a serem divulgadas em canais académicos e sociais, ao nível da responsabilidade social pela erradicação da pobreza nas famílias, com vista a um futuro mais humano e pleno, ao nível do desenvolvimento, para as gerações mais novas.

 


Tiago Abalroado, Potenciar o Valor Social

 

Testimonial

EsterMingaDHI

Ester Minga

Fellow do Programa em Desenvolvimento Humano Integral
​A comunicação empática e uma visão transdisciplinar às questões sociais são constantemente promovidos.