O serviço social é, simultaneamente, uma profissão de intervenção e uma disciplina académica que procura o desenvolvimento e a mudança social, a coesão social, o empowerment e a promoção da pessoa, e que tem como centrais os princípios da justiça social, dos direitos humanos, da responsabilidade coletiva e do respeito pela diversidade. Alicerçado na própria base teórica e em teorias de outras ciências sociais e humanas, o serviço social relaciona as pessoas com as estruturas sociais para responder aos desafios e à melhoria do bem-estar social (cf. IFSW & IASSW, 2014). A Declaração Global de Princípios Éticos para o Serviço Social, por sua vez, reforça o compromisso dos assistentes sociais com os valores e princípios fundamentais da sua profissão, entre os quais, o tratamento da pessoa humana como um ser integral (cf. IFSW & IASSW, 2018).
Os traços distintivos do serviço social parecem, pois, sugerir que o Desenvolvimento Humano Integral – enquanto conceito cunhado em 1967 pelo Papa Paulo VI, na Carta Encíclica Populorum Progressio, para indicar uma visão de desenvolvimento centrada no ser humano, capaz de “promover todos os homens e o homem todo” (14), e cujo enfoque o Papa Francisco renovou em 2015 com a publicação da Carta Encíclica Laudato si´ –, encontra reflexo nesta profissão social. Esta correlação adquire particular significado ao olhar-se os destinatários da intervenção dos assistentes sociais: pessoas, grupos e comunidades em situações de pobreza e exclusão social, relegados às “periferias da humanidade”. Neste sentido, o serviço social pode trazer um contributo para a leitura de temas críticos da sociedade, e para o aconselhamento às políticas sociais que enquadram o agir dos assistentes sociais em contexto organizacional.
Diante das profundas transformações que ocorrem no mundo contemporâneo e, por inerência, no tecido social, o serviço social tem visto o seu campo profissional em recomposição (cf. Amaro, 2015; McGregor, 2019), configurando esta uma oportunidade para repensar o ensino e a prática dos assistentes sociais. A isto se propôs este projeto de pós-doutoramento, iniciado em fevereiro de 2022, e cujo percurso agora se apresenta: por um lado, produzir conhecimento sobre a realidade e; por outro, formular propostas capazes de conduzir a uma maior sensibilização dos vários intervenientes nos processos de intervenção social, e à capacitação dos assistentes sociais, para uma prática profissional mais alinhada com o desenvolvimento integral da pessoa humana em contextos de pobreza e exclusão social. Ao funcionar deste modo, pretendeu-se alcançar de forma indireta um conjunto alargado de beneficiários: os destinatários da intervenção dos assistentes sociais.
Em termos concretos, constituiu-se como observatório a Região Autónoma da Madeira, território onde foram realizadas diferentes incursões com recurso a uma metodologia de investigação-ação, envolvendo assistentes sociais, responsáveis institucionais e instâncias de decisão política em matéria de inclusão social e cidadania.
Amaro, Maria Inês (2015), Urgências e Emergências do Serviço Social: Fundamentos da profissão na contemporaneidade (2.ª ed.), Lisboa: Universidade Católica Editora.
IFSW & IASSW (2014), Global Definition of Social Work.
IFSW & IASSW (2018), Global Social Work Statement of Ethical Principles.
McGregor, Caroline (2019), “A paradigm framework for social work theory for early 21st century practice”. British Journal of Social Work, 49, 2112-2129:
Papa Francisco (2015), Laudato si´.
Papa Paulo VI (1967), Populorum Progressio.
Bio
Fellow no Programa de Pós-doutoramento em Desenvolvimento Humano Integral da Católica Doctoral School. Doutorada em Serviço Social desde 2022, pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (UCP), com uma tese intitulada “Marie-Thérèse Cécile Lévêque e o Instituto de Serviço Social (1935-1946): História e Memória”. Naquela Faculdade obteve, também, o Mestrado (2009) e a Licenciatura (2005) em Serviço Social.
Investigadora no Centro de Estudos de História Religiosa – UCP desde 2008, sendo responsável pelo projeto de organização e descrição do fundo documental da assistente social M.ª Leonor Corrêa Botelho (1915-96), e membro da equipa editorial da “Enciclopédia de História Religiosa em Portugal” (online). Integrou o Centro de Estudos de Serviço Social e Sociologia – UCP, entre 2006 e 2016, onde participou no estudo sobre imigrantes sem-abrigo em Portugal, e no levantamento das necessidades de apoio da população idosa em Lisboa. Autora de O Discurso Histórico sobre o Serviço Social em Portugal (UCE, 2009), e coautora de Imigrantes Sem-Abrigo em Portugal (ACIDI, 2013). A sua área de investigação incide, em particular, sobre a história e construção da profissão de assistente social em Portugal.
Professora assistente convidada na Faculdade de Ciências Humanas da UCP, onde leciona no Mestrado em Serviço Social. Coordenadora-adjunta e docente na Pós-Graduação “Perspetivas Atuais, Acompanhamento e Inserção em Serviço Social” (2023/24), em curso na Universidade da Madeira (UMa), numa parceria com a UCP. Foi docente na Licenciatura em Serviço Social da UCP (2006-16), e também da UMa (ano letivo 2007/08). Pertenceu ao Conselho Consultivo do Anuário do Centro de Estudos de História do Atlântico, na Região Autónoma da Madeira (2009-15), e assumiu funções de diretora de sustentabilidade e responsabilidade social no Grupo Sousa, Funchal (2016-19).
Membro do Groupe de Recherche sur l´Histoire du Service Social (GREHSS), sediado em Paris, e da European Social Work Research Association (ESWRA), onde integra o grupo Social Work, History and Research. Membro da Associação dos Profissionais de Serviço Social (APSS) e da Ordem dos Assistentes Sociais (OAS).
