Abstract
As mulheres em situação de pobreza respondem, em muitos casos, a uma condição material que foi historicamente e socialmente produzida pelo processo colonial de exploração capitalista, patriarcal e racista. Os preconceitos e opressões que sofrem, derivados dos estereótipos e estigmas que lhes são atribuídos, são importantes mediadores para compreendermos a exclusão social que vivenciam. Quando se trata do combate da pobreza, muitas das intervenções se preocupam em elaborar estratégias voltadas à geração de rendimento e desconsideram que a questão econômica é apenas um dos aspectos da pobreza. A partir de uma compreensão multidimensional da pobreza, como caminho para o seu enfrentamento, é possível considerarmos que existem outras dimensões dessa vivência que também devem ser atendidas, incluindo experiências psicossociais de opressão que a situação de pobreza produz, mas também a elaboração de condições para a construção e promoção do bem-estar e resiliência, que permitem transcender as opressão. Os registros dessas experiências de opressão disparam o que entendemos por processos de subjetivação. As intervenções psicossociais são um campo de atuação que pode contribuir apoiando estas mulheres para construírem, coletivamente, experiências de resistência, novos registros e respostas, e com isso, novas percepções de si e estratégias de enfrentamento das condições sociais que as subjugam. Por essa razão, é imperativo que as intervenções se acompanhem de um posicionamento crítico face à pobreza, e que considerem as dimensões éticas e políticas que envolvem os constrangimentos que afetam as experiências cotidianas
de bem-estar de muitas mulheres do Sul Global. O conceito de bem-estar é de fundamental relevância para o campo das intervenções psicossociais, sobretudo nos trabalhos voltados às mulheres em situação de pobreza e que vivenciam inúmeras desigualdades e injustiças sociais. Estas intervenções psicossociais devem contribuir para a construção de uma identidade e de experiências positivas por parte dessas mulheres, e para que desempenhem uma versão preferida de si mesmas, aumentando a sua capacidade de exercerem controle e poder sobre si mesmas e sobre as experiências construídas na relação com o seu ambiente material e social. Nesta comunicação, propomos que a conceitualização de uma noção de bem-estar ético político pode orientar o campo das intervenções psicossociais, permitindo que respeitem e atendam às especificidades das condições das mulheres em situação de
pobreza. Buscamos discutir dimensões centrais e eixos organizadores desta conceitualização e as potenciais implicações e orientações gerais para a prática.
Palavras-chave: bem-estar ético-político | intervenção psicossocial | mulheres em situação de pobreza | injustiça social
Biographic notes
Priscila Dias Batista Vieira é brasileira, Psicóloga e Filosofa pela PUCPR (Brasil), mestre em Intervenção Social e doutoranda em Pós-Colonialismo e Cidadania Global pela Universidade de Coimbra (Portugal). Desenvolve Projetos Sociais voltado ao bem-estar de mulheres em situação de pobreza através de intervenções baseadas nas Artes.
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Ana Teixeira de Melo é portuguesa, doutorada em Psicologia Clínica e investigadora do Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra (Portugal). Investiga processos de florescimento e mudança positiva e resiliência humana. Investiga um pensamento complexo para a gestão da mudança em sistemas complexos e da inter/transdisciplinaridade criativas e abdutivas.
anamelopsi@gmail.com | ORCID